Revista invi Nº 56, Mayo 2006, Volumen 21: 42 a
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HABITAÇAO SOCIAL NO MEIO ACADÊMICO: RETOMANDO A TEMÁTICA
Juan José Mascaró, Rosa Maria Locatelli Kalil,
Adriana Gelpi, Andréia Saúgo, Rosangela Comin
Dic/2005
Este trabalho aborda a realidade da produção
habitacional do interior do estado do Rio Grande do Sul, tomada como
fundamentação e contexto para o desenvolvimento
dos trabalhos acadêmicos. A seguir, apresenta as diretrizes
metodológicas utilizadas nos processos
pedagógicos e de investigação, bem os
resultados preliminares dessa abordagem nos cursos de arquitetura e
urbanismo e de engenharia em Passo Fundo. Os primeiros projetos
acadêmicos desenvolvidos procuram levar o aluno mais perto da
realidade e do contexto local, por meio de: diagnósticos de
favelas e vilas a serem reassentadas, conhecimento dos futuros
usuários de programas públicos e privados,
comparativos entre a infra-estrutura urbana existente e a
necessária nas áreas previstas para
implantação de núcleos habitacionais,
dentre outras atividades preparatórias para o
desenvolvimento de projetos arquitetônicos e
urbanísticos. Na continuidade, devem ser incorporados aos
conteúdos ministrados nos cursos o uso e desenvolvimento de
tecnologias construtivas alternativas, bem como a
viabilização de normas e
legislações condizentes com esse enfoque.
Conclui-se que esta é uma forma de fazer com que o aluno e
os cursos saiam dos ateliês e interajam com a realidade e a
dureza do tema, mas também se capacitem para a
prática profissional no campo de trabalho existente, que tem
seu potencial econômico agregado ao resultado social.
Palavras-chave: habitação social,
formação acadêmica e profissional,
qualidade de projeto habitacional, produção
habitacional.
This study deals with the reality of the housing production within the
State of Rio Grande do Sul as the basis and the context for the
development of academic papers. Afterwards, it presents the
methodological directives used in the pedagogical and investigational
processes as well as the preliminary results of this approach in the
architecture, urbanism and engineering courses in Passo Fundo. The
first academic developed projects seek to approximate the student to
the reality and the local context by means of the diagnosis of the
slums and suburbs to be resettled, knowledge of the further users of
the public and private programs, comparatives between the existing
urban infra-structure and the essential in the anticipated areas for
the implantation of housing centers, among other preparatory activities
for the development of architectonic and urban projects. Next, the
teaching subjects which ought to be incorporated in the course are the
use and the development of alternative constructive technologies as
well as the viability of the norms and the legislation suitable to this
approach.
It can be concluded that this is a manner to make the student and the
courses leave their studios and interact with their reality and
difficulties of the theme, and, at the same time, become capable to
develop the professional practice in the existing working field, having
its economical potential aggregated to the social outcomes.
Key words: social housing, academic and professional programs, quality
of housing design, housing production.
BREVE HISTÓRICO
Na década de 1950 e, desde o fim da Segunda Guerra Mundial,
os governos – sem diferença de sistemas
político ou de diferenças econômicas
– ampliaram suas funções no campo
habitacional, o que foi simplesmente a
continuação de uma tendência
histórica. Esta situação, facilitando
inovações em determinados setores sociais,
animouos governos e povos a assumirem a criação
de um mundo melhor e generalizando, desta forma, o discurso do bem
estar em todos os países da Europa Ocidental e
América Latina.
Sob esta orientação precisa desenvolveramse as
propostas habitacionais da época.
Mas foi na década de 1960 que as políticas
habitacionais propriamente ditas se generalizaram como canal de
intervenção do Estado. E foi nessa
década que a indústria da
construção se expandiu rapidamente em todo o
mundo, entre outras razões, para acompanhar o grande
crescimento dos centros urbanos. Foram modificados o valor e a natureza
dos subsídios estatais em ambos
os continentes. O setor privado (subsidiado ou não) foi
responsável pela maior parte das
construções nesses anos, ao passo que as
administrações públicas (incluindo as
cooperativas e associações)
construíram mais do que a terça parte das novas
habitações (MASCARÓ, 1995).
A recessão econômica que começou com a
crise do petróleo em 1973, alcançou duramente o
setor da construção, particularmente o subsetor
da construção de
habitações. A diminuição da
demanda, o
aumento do custo dos materiais de construção e as
maiores taxas de juros contribuíram para uma
diminuição significativa da
construção anual de
habitações, tanto na Europa quanto
na América Latina, com a lógica
conseqüência sobre o emprego e a atividade
econômica em geral. Do ponto de vista teórico, os
zoneamentos rígidos, sacramentados pelo CIAM, dominaram o
pensamento urbanístico da década de 1950 em
diante: cidades universitárias, distritos industriais,
grandes conjuntos habitacionais, áreas residenciais
exclusivas, centros administrativos. As
«depurações» da
legislação urbanística
progressivamente foram fechando as possibilidades do uso de morfologias
tradicionais (o lote, a edificação
contínua de baixa altura e a alta densidade, o
pátio, o centro do quarteirão, o bairro).
Acusadas de anacrônicas, não foram aplicadas a
essas soluções alternativas de desenho que as
fizeram evoluir, sem romper obrigatoriamente com a
tradição. Ao contrário, as leis
tendiam cada vez mais a aprofundar o corte e a limitar os projetos de
uso do solo urbano aos padrões: torres e blocos soltos sobre
uma base contínua de jardins: a
edificação isolada em um grande lote fechado,
onde a taxa de ocupação deveria ser baixa.
Propostas de modernidade que tendiam a anular por completo as formas do
passado.
As políticas de habitações do
pósguerra foram essencialmente quantitativas, mais discursos
idealista-funcionalistas do que ações. Esta
situação se manteve até o momento da
concentração de capital no setor
imobiliário na década de 1960 que, ironicamente,
coincide com o último período de credibilidade no
tema tal como proposto: construção em massa de
habitações na periferia urbana.
Na mística de determinadas políticas, as
habitações passaram a ser, desde a
década de 1930, o grande tema, a partir da
herança dos pré-supostos teóricos
elaborados em 1920 e 1940 pelo Movimento Moderno e da
experiência de exemplos resgatados de cidades como Berlin e
Viena para modelos de política de
habitações. O discurso oficial da arquitetura e
do urbanismo – base teórica das
políticas habitacionais – foi bastante
monolítico, ao menos até a década de
1960, quando se quebrou juntamente com os planos de
habitações e suas formas mais representativas: os
conjuntos residenciais de baixo custo (FINEP, 1983). Prevaleceu,
até então, o dogma funcionalista de que a forma
da arquitetura era uma variável independente (e somente
poderia ser analisada através dos processos sociais que o
serviam de suporte) acompanhado de perigosas
alienações do «estilo
internacional» e da prática urbanística
racional, comprometida com o desenvolvimento e o progresso.
O racionalismo modernista transformou o espaço em
descontinuidade e fragmentação, falta de conforto
e insegurança, preferindo destacar os edifícios
urbanos como figuras sobre um fundo ambíguo, como bem
exemplifica imagem dos principais produtos das políticas
mais representativas da época.
Em determinados períodos, as políticas de
habitações se transformaram em um fim para si
mesmas, meios de satisfação de objetivos
políticos econômicos, mais que sociais.
Protegidos, justamente, na pobreza de seus destinatários,
produziram construções de baixo custo, baratas e
não econômicas, repetitivas e
monótonas, sem cuidado com a habitabilidade. Se algum
questionamento foi feito, centrou-se nos aspectos
urbanísticos e não nos arquitetônicos,
talvez por que na década de 1960 a cidade era o novo
paradigma (GITAHY e PEREIRA,2002).
O fato de que não se definiam as técnicas, os
meios e os materiais necessários para alcançar os
ambíguos fins da legislação brasileira
pode explicar-se com base na filosofia contida na própria
normativa de maneira implícita, que expressava a
confiança do Estado no bom juízo de arquitetos e
peritos para adotar a estratégia a seguir em cada caso, ou
seja: os sistemas e detalhes de construção que
deveriam ser escolhidos entre os mais convenientes dentro da economia.
A situação criada dentro de uma
legislação articulada à base de
princípios gerais imprecisamente definidos e importantes
omissões (como é a falta de qualquer
exigência normativa para as coberturas) traz como resultado,
entre outros, a afirmação do uso dos sistemas
construtivos tradicionais, pois os projetistas e construtores pensavam
que era o método mais confiável do ponto de vista
tanto da solidez e da durabilidade da edificação
como do rendimento da (enorme e desqualificada) mão de obra
disponível para a execução das obras.
A criação do Banco Nacional de
Habitação, BNH, na década de 1960,
impôs o critério do «barato»
sobre o «econômico», diminuiu a qualidade
da construção, aumentando espetacularmente a
quantidade de habitações produzidas, cada vez
mais em condições precárias, muitas
vezes sem entender a legislação
técnica vigente (MASCARÓ, 1995).
Não é difícil aceitar estas
informações imaginando um panorama configurado
pela escassez de materiais básicos de
construção, a precariedade das
máquinas e meios auxiliares empenhados, o baixo
nível de industrialização do setor e a
abundância de mão de obra não
qualificada adquirida ali mesmo. «A grandes
rasgos», este poderia ser o perfil tecnológico da
edificação nas décadas de 1950 e 1960.
Mas, ainda assim não é possível
justificar a ausência dos aspectos ambientais da
habitação na legislação
técnica brasileira, principalmente os relacionados com o
desempenho térmico de coberturas e, em outros elementos de
definição da habitabilidade na
edificação.
O tema da habitação social no ensino e na
pesquisa foi tratado com ênfase nas décadas de
1960 e 1970, período em que as políticas
habitacionais brasileiras oportunizaram investimentos
maciços em grandes programas. Na década de 1980,
com a derrocada do Sistema Financeiro da
Habitação e a extinção do
BNH, o volume de obras foi declinando até uma
inércia em muitos estados, fazendo com houvesse uma
espécie de dormência no tema, especialmente nas
instituições de ensino superior. (KALIL, 2001,
2004)
A partir da década de 1990, houve uma retomada dos programas
habitacionais, focados na gestão estadual e municipal, com
busca de atendimento às demandas dos grupos e movimentos
sociais e de uma qualidade arquitetônica para a
habitação social (BONDUKI, 1992, 1998, WERNA,
2001). Contudo, percebe-se que os conjuntos habitacionais mais recentes
implantados no estado do Rio Grande do Sul apresentam baixa qualidade
arquitetônica (construtiva e ambiental) e qualidade urbana
mínima que, embora justificadas pela falta de recursos do
poder público estadual e municipal, na maioria dos casos
prioriza a quantidade de unidades sobre a qualidade da
habitação e do hábitat
(MASCARÓ, 2002).
ÂMBITO
ACADÊMICO: RETOMANDO O ESTUDO DO TEMA
Nessa retomada de programas com projetos realizados por profissionais
locais, diferentemente dos megaprojetos centralizados nos gabinetes de
setores públicos federal e estadual nas décadas
anteriores, ocorre demanda por arquitetos urbanistas qualificados. O
papel da universidade como formadora de profissionais para a
área da habitação de interesse social
retoma, pois, a temática tanto no âmbito do ensino
de graduação e
pós-graduação, quanto na
produção científica.
O tema da habitação de interesse social (HIS) tem
sido desenvolvido no curso de Arquitetura e Urbanismo da UPF, Passo
Fundo, RS, Brasil, desde o seu início em 1995. Se
inicialmente, de forma mais dispersa nas disciplinas de projeto urbano,
gradualmente vem sendo aplicado de forma mais sistemática,
despertando interesse em professores e alunos.
Tal iniciativa tem sido apoiada pelo surgimento de
investigação científica acerca da
habitação social na cidade e região de
Passo Fundo, tanto resgatando o processo histórico de
atendimento à demanda habitacional urbana pela
população de baixa renda, como
avaliação de aspectos urbanísticos e
projetuais.
Entende-se que a investigação
científica sobre a produção da
habitação social em Passo Fundo, tem servido de
embasamento para a proposição de alternativas
habitacionais mais adequadas ao
usuário, centro do processo, e contribuído para a
formação de profissionais arquitetos urbanistas
que tenham como meta a qualidade da moradia e a melhoria de sua
qualidade de vida e conquista da cidadania no meio urbano.
No ensino de
graduação
A disciplina de Projeto Urbano II que se encontra no VII semestre
dentro da grade curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade de Passo Fundo,
tem como tema a requalificação de bairro de
classe média baixa que se encontra dentro da área
urbana de Passo Fundo, inserida no bairro denominado
Petrópolis.
A disciplina tem por objetivo principal a
dinamização deste espaço. Os docentes
propuseram para os alunos como diretrizes de projeto a
sustentabilidade, inserção social e
geração de renda. Os alunos usaram como uma das
estratégias de intervenção no seu
exercício, a criação de
áreas comerciais mais próximas do bairro e
inclusão de habitações de interesse
social, assim como áreas de lazer e escolas para atender a
população local.
O exercício acaba sendo enriquecido ainda, com uma ampla
interdisciplinaridade especialmente com a disciplina de Projeto
Arquitetônico VII, em que é desenvolvido o tema de
conjunto habitacional de interesse social.
Além disso, são desenvolvidas atividades
interdisciplinares e complementares, como por exemplo, assessorias com
professores da área de estruturas, palestras com professores
de paisagismo e profissionais da prefeitura responsáveis
pela implantação dos projetos da
habitação social na cidade de Passo Fundo. A
disciplina se caracteriza por ter um forte cunho social, propondo como
objeto de estudo uma situação real em um bairro
dentro do cinturão de expansão urbana da cidade
de Passo Fundo. Desenvolvemse diagnósticos de favelas e
vilas a serem reassentadas, conhecimento dos futuros
usuários de programas públicos e privados,
comparativos entre a infra-estrutura urbana existente e a
necessária nas áreas previstas para
implantação de núcleos habitacionais,
dentre outras atividades preparatórias para o
desenvolvimento de projetos arquitetônicos e
urbanísticos. Na continuidade, devem ser incorporados aos
conteúdos ministrados nos cursos o uso e desenvolvimento de
tecnologias construtivas alternativas, bem como a
viabilização de normas e
legislações condizentes com esse enfoque.
O aluno é instrumentado com ferramentas e instrumentos de
intervenção que devem atender e viabilizar
soluções plausíveis, para os problemas
detectados nos diagnósticos feitos pelos próprios
alunos no início do exercício. Os alunos mostram
interesse e envolvimento pelo tema, com um resultado superior ao
previsto pelos professores da disciplina. Isto demonstra a
adequação à
inserção do tema no currículo do
curso. (Fig. 1, 2, 3)
No ensino de
pós-graduação
Em nível de pós-graduação
stricto sensu, o tema da habitação de interesse
social é abordado no curso de Mestrado em Engenharia:
infra-estrutura e meio ambiente, iniciado em 2003. Envolvendo
disciplinas regulares e pesquisas de docentes e alunos, contempla a
questão da produção do
território, infra-estrutura e
urbanização de áreas, inclusive para
habitação de interesse social.
Urbanização de áreas residenciais.
Fig. 1 - Projeto Arquitetônico VII, 2005. Fonte: autores.
Fig. 2 - Projeto Arquitetônico VII, 2005. Fonte: autores.
Fig. 3 – Trabalho realizado pelos alunos da disciplina de
Projeto Urbano II. Fonte: autores.
Aspectos ambientais e de
infraestrutura.
A disciplina integra a linha de pesquisa
Urbanização e Infra-estrutura. Aborda a
especificidade da questão habitacional pela sua
importância e predominância no uso do solo urbano
na constituição dos
assentamentos humanos. Para tal enfoca o tema sob três
aspectos: (a) as políticas e os programas habitacionais, sua
evolução no Brasil e na região e os
resultados e perspectivas em termos de alternativas de
promoção, tipologias urbanísticas e
habitacionais; (b) os aspectos sociais, econômicos,
tecnológicos e ambientais da
implantação de assentamentos habitacionais, e sua
articulação com as culturas e os costumes locais.
(c) a infraestrutura urbana dos conjuntos e núcleos
habitacionais, nos aspectos relativos ao sistema viário,
redes de energia elétrica e de
comunicação, abastecimento de água,
rede de esgoto e saneamento, rede verde e serviços urbanos.
A partir dos aspectos teóricos, são realizados
diagnósticos urbanísticos de conjuntos
habitacionais na região, nos seus diversos aspectos, para
embasar propostas de intervenção com vistas
à qualidade urbanística, habitacional e
ambiental. (Fig. 4, 5, 6 e 7 )
Fig. 4 - Trabalho desenvolvido pelos alunos de mestrado, 2004. Fonte:
autores
Fig. 5 - Trabalho desenvolvido pelos alunos de mestrado, 2004. Fonte:
autores
Ocupação
do Território e Infra-estrutura
A disciplina busca fundamentar a linha de pesquisa
Urbanização e infra-estrutura. Para tal, aborda
as questões referentes ao processo de
construção do território em termos da
evolução da ocupação do
território, urbanização e
relação ambiente natural e ambiente
construído. Enfoca especialmente a região sul do
Brasil, com ênfase na região norte do estado do
Rio Grande do Sul. Além disso, são abordados
conteúdos de planejamento e da gestão territorial
e urbana, no espaço regional e municipal, tendo como
princípio o desenvolvimento sustentado no contexto da
contemporaneidade, de forma articulada com a
atuação de urbanistas, engenheiros e outros
profissionais da área da infra-estrutura e do meio ambiente.
PRODUÇÃO
BIBLIOGRÁFICA
Artigos em congressos
Existe a preocupação e, por que não,
uma paixão pelo tema por parte dos professores
pós-graduados do curso. Tal
preocupação se reflete na
produção de inúmeros artigos
científicos publicados em congressos nacionais e
internacionais de renome.
As pesquisas financiadas por órgãos nacionais e
estaduais de fomento à pesquisa (Fapergs, CNPQ)
têm gerado trabalhos dedicados fundamentalmente à
procura por soluções alternativas para a melhoria
da qualidade das habitações sociais de baixo
custo e a minimização dos custos de
execução. Os trabalhos são
publicados em congressos importantes, de âmbito nacional e
internacional, como NUTAU, PLEA, ULACAV, Ibérico de Energia
Solar, entre outros.
Livros,
capítulos e artigos científicos sobre o tema
As publicações científicas produzidas
pelos docentes em conjunto com alunos de
graduação e
pós-graduação retomam a
temática no contexto da produção
habitacional regional e local contemporânea, gerando
subsídios para a instrumentalização da
formação e capacitação dos
profissionais de arquitetura e urbanismo e para a
definição de políticas e programas
públicos e privados. Como livros publicados sobre o tema
pelo professor Juan Jose Mascaró do curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de Passo Fundo temos:
- Habitação Social para o Planalto
Médio Central do Rio Grande do Sul;
- Infra-estrutura alternativa para Habitação
Social. O primeiro enfoca aspectos sócioeconômicos
e tecnológicos da produção de
habitações sociais. Faz um diagnóstico
da situação das políticas
habitacionais e os assentamentos irregulares da região do
Planalto Médio Central do Rio Grande do Sul.
Enfoca uma proposta de uso dos esgotos abertos e da
ocupação do lote. Além disso, traz uma
proposta de unidade habitacional adequada ao usuário e ao
clima da região, visando uma
otimização do espaço e a
minimização dos custos. O segundo livro trata da
infra-estrutura urbana alternativa, desenvolvendo
soluções de baixo custo para cada uma das redes,
objetivando demonstrar seu uso adequado e eficiente do ponto de vista
técnico e social.
Também publicações de
capítulos de livros e artigos de periódicos
indexados contemplam a temática da HIS, abordando
questões sobre as modalidades de provisão tipo
cooperativas e mutirão habitacional, especialmente no
contexto gaúcho, como é o caso da professora Rosa
Maria Locatelli Kalil e de seus alunos de mestrado:
- Direitos humanos e moradia em Passo Fundo: uma experiência
autogestionária.
- Avaliação
pós-ocupação e eficácia
social: estudo de caso comparativo de habitações
de interesse social autoconstruídas na modalidade
cooperativa autogestionária e na modalidade
promoção pública municipal.
- Cooperativas habitacionais e capacitação
profissional.
Os textos relatam pesquisas desenvolvidas em experiências
habitacionais regionais, resultando em avaliações
de programas públicos e nãogovernamentais e
reforçando a necessidade de implantar projetos qualificados,
visando à oferta de moradia digna às
populações carentes.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A conclusão principal deste trabalho é que a
negligência com a habitabilidade, a falta de economia, a
inadequação da tipologia adotada, a pobreza
formal, a impossibilidade de que os usuários resolvam erros
de projeto e construção através do uso
de energia, enfim, um conjunto de situações
adversas verificadas, não decorrem somente das
políticas adotadas para a habitação,
incluindo a legislação técnica
correspondente. Também resultam do generalizado
desconhecimento das condicionantes climáticas por parte dos
projetistas e do escasso prestígio do conforto natural,
principalmente em climas complexos, cujas
soluções energético-ambientais
dificultam a adaptação das estratégias
de projeto mais corretas.
As deficiências de habitabilidade e os
desperdícios apontados podem ser vistos como o resultado de
uma série de fatores combinados, que vão desde a
incompreensão das potencialidades e
limitações da capacidade edificativa do terreno
até a complementação e
interdependência entre o projeto arquitetônico e
seu comportamento ambiental-energético.
Os conjuntos residenciais de baixo custo colocam em evidência
uma crise do saber e do fazer arquitetônico. Pois seria
discutível pensar que a crise se devia, fundamentalmente, a
fatores sócio-políticos e legais, diante dos
quais os arquitetos estariam completamente impotentes. Tudo isso pode
parecer redundante, pouco inovador, mas foi essencial para
alcançar os objetivos propostos: passar do discurso para a
verificação das afirmações
enunciadas inicialmente, da inversão do tema no curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Passo Fundo e nas
universidades brasileiras. No curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Passo Fundo a aceitação da
temática por parte dos alunos foi imediata, refletindo-se na
finalidade dos trabalhos desenvolvidos nas disciplinas de Projeto
Arquitetônico e Urbanismo. Não foi diferente no
curso de Pós-Graduação entre os
profissionais que cursaram as disciplinas que tratam do tema se
engajaram rapidamente no estudo e pesquisa das
soluções econômicas e construtivas
viáveis para os principais problemas que imperam a
décadas na produção da
habitação social no Brasil.
A relevância dos projetos habitacionais
contemporâneos exige competências e habilidades que
parece não estarem presentes no perfil dos profissionais da
área, mas cuja demanda cresce. Não se
trata de atender um cliente individual ou estatal, mas de atender
muitos usuários, cujas expectativas e necessidades
individuais e coletivas, estão além do desenho da
habitação, estão no processo de
gestão do ambiente habitacional, de acordo com recursos e
expectativas. Ou seja, a formação do arquiteto
urbanista no Brasil e na América Latina requer a
ênfase na área da habitação
social.
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